Reconhecimento Facial no Brasil Vigia 40% da População e Preocupa Especialistas

Picture of Jéssica Franco

Jéssica Franco

Reconhecimento Facial no Brasil Vigia 40% da População e Preocupa Especialistas

Você está sendo vigiado. E não apenas por câmeras comuns, mas por sistemas que comparam, classificam e identificam rostos — muitas vezes sem que a pessoa sequer saiba. Um estudo da Defensoria Pública da União (DPU) em parceria com o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) revela que o Brasil já tem 376 projetos ativos de reconhecimento facial, com potencial de monitorar quase 83 milhões de pessoas — cerca de 40% da população.

Segundo o relatório “Mapeando a Vigilância Biométrica”, divulgado em 7 de maio, essas tecnologias começaram a se espalhar no país após os grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Prometendo mais segurança e auxílio na localização de criminosos e desaparecidos, os sistemas se tornaram presença constante nas cidades brasileiras — mas com pouca transparência e quase nenhuma regulação.

O levantamento revela que os projetos de vigilância facial já movimentaram pelo menos R$ 160 milhões em recursos públicos, embora nem todos os estados tenham prestado informações. A maioria das câmeras é gerida por órgãos de segurança pública, e o uso costuma ocorrer sem consentimento dos cidadãos.

Além do risco à privacidade, os especialistas destacam as falhas técnicas e os vieses raciais das tecnologias. Um dos casos mais emblemáticos é o do personal trainer João Antônio Trindade Bastos, retirado de um estádio em Aracaju após ser erroneamente identificado como foragido. Bastos é negro — grupo que, segundo o relatório, é desproporcionalmente afetado por erros desse tipo.

Um estudo do CESeC identificou 24 casos de falhas graves entre 2019 e abril de 2025. Em mais da metade das abordagens policiais baseadas em reconhecimento facial no Brasil, houve identificações equivocadas. Pesquisas internacionais apontam que os sistemas têm taxas de erro 10 a 100 vezes maiores para negros, indígenas e asiáticos, em comparação com pessoas brancas.

Reconhecimento Facial no Brasil Vigia 40% da População e Preocupa Especialistas

Apesar dos riscos, não há uma legislação específica em vigor no Brasil. Em dezembro de 2024, o Senado aprovou o Projeto de Lei nº 2338/2023, que busca regular o uso de inteligência artificial, incluindo as tecnologias de reconhecimento facial. No entanto, especialistas criticam o texto por conter muitas exceções, o que, na prática, pode autorizar o uso irrestrito desses sistemas.

Diante disso, o relatório recomenda debate público urgente, padronização de protocolos, auditorias independentes e maior transparência nos contratos. Também sugere a exigência de autorização judicial para o uso de dados obtidos por reconhecimento facial e a limitação do armazenamento de dados biométricos.

Para os autores, é fundamental que a tramitação do PL 2338 na Câmara dos Deputados leve em conta as falhas e os riscos apontados. “O relatório evidencia tanto os vieses raciais quanto o mau uso de recursos públicos e a falta de mecanismos de controle”, afirma Pablo Nunes, coordenador do CESeC.

Posts Relacionados

Compartilhar
Twitter
Enviar

Post Anterior

plugins premium WordPress

You cannot copy content of this page

Rolar para cima